quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Não sei o que dizer

A rebeldia toma conta de uma geração movida pela indignação. Repressão. Ditadura militar. É um novo tempo no Brasil, a exemplo do que acontece em toda América Latina.
1964, militares dão o golpe de Estado e o que já não era bom fica ainda pior. Qualquer manifestação é vista como desordem e quem se manifesta contra o governo é banido de circulação.
Grande movimentação entre estudantes e o fortalecimento da União Nacional dos Estudantes leva polêmica e medo aos militares, pela força que essa juventude mais esclarecida exercia sobre a sociedade, por seu poder de articulação em prol da defesa dos direitos de todos, e a influência das idéias socialistas de Marx, Marcuse, Mao, entre outros que também inspiraram a juventude francesa daquela época e que, por sua vez, seus reflexos alcançaram o Brasil.
Nesse turbilhão todo, se agitam também os sindicatos de diversos setores, como o dos artistas , comerciários e, com destaque, dos metalúrgicos no ABC paulista. As primeiras grandes greves agitaram os ânimos nos palácios, em especial no planalto central, e tudo caminha rumo ao temido Ato Institucional-5, o famoso AI-5.
Muitas cabeças pensando ao mesmo tempo em como parar ou frear a ação dos militares. Partir para o enfrentamento? Guerra civil? Diálogo? Outro golpe de governo? Não se sabia o que fazer, mas algo haveria de ser feito.
Muitas alas se formaram durante aquele carnaval militar, todos descontentes com a política, a economia, a educação e demais necessidades básicas. Algumas ideologias tentavam alimentar os sonhos de uma pátria livre e comunista, a exemplo do que acontecia com Cuba, uma delas, a corrente da esquerda mais antiga do país, o PC do B. No entanto, muitos ainda não tinham opção ou identificação partidária, pois achavam que seus ideais não estavam ali representados, foi aí que nasceu o Partido dos Trabalhadores (PT).
A necessidade de se organizar para lutar por um ideal maior fizeram o mais novo partido crescer e ser a principal oposição ao governo dali em diante.
Os ideais se consolidaram numa nova opção de adesão na luta política. Uma crescente representação nas diferentes esferas do poder fizeram daquele que nasceu no sangue da repressão um dos maiores partidos da atualidade, e com esse tempo surgiram também muitas divergências como um conturbado relacionamento.
Muitas alas se formaram dentro do partido, subentendendo compreender dos mais aos menos rebeldes ou extremistas. As divergências internas enfraqueceram uma estrutura já desgastada pela conjuntura neo-liberal e capitalista do sistema, que deixou um partido novo com velhas bandeiras, muitas causas, mas sem visualização do “alvo”.
Análises de conjuntura, reuniões cá e lá, muitas articulações e se chegou a uma tribo de muitos caciques para poucos índios. Lideranças já corroídas pelo tempo e que vivem de um passado “glorioso”, do movimento estudantil e organizações sindicais. Os tempos da rebeldia jovem ficou para a história e, hoje, continuar a escrevê-la já não é nada fácil com os pólos invertidos.
O jogo político é como uma luta de vale-tudo, inclusive golpe baixo. Mas vence quem tiver uma melhor estratégia e acerta os golpes. Assim, muitos golpes apareceram: cuecas recheadas de dinheiro; uma mesada aos parlamentares que “apóiam” o governo; até mesmo lavagem de dinheiro via universidade pública se teve neste meio tempo. Alianças partidárias jamais imaginadas se fizeram e desfizeram de acordo com interesses de partidos ou particulares. Um showzinho de políticos trocando de partido como quem troca de roupa. Escândalos e mais escândalos que quem vê de fora jamais conseguiria entender.
Bem se vê que o poder muda as pessoas, muda posturas, e será que seria capaz de mudar ideologias?
Hoje o Partido dos Trabalhadores ainda responde por um mérito de democracia: suas eleições internas acontecem com a participação de todos os partidários, em todas as instâncias. Mas será que o grito de todos ecoa até o planalto? Existe mesmo esse suposto respeito às bases ou é só pra pintar mais colorida essa página?
Administrar um país de tantas adversidades certamente está sendo o maior desfio já encarado por esse partido, maior até mesmo que perder a vida de pessoas durante a repressão militar. Talvez, ser perseguido tenha sido mais fácil que ser vigiado. Ver o erro dos outros é mais fácil que admitir os próprios. E agora, como ficará o país? E essa nação, ainda é respeitada?
Um movimento simples e xeque-mate. Administrar um país com alguns bilhões a menos, eis o mais novo dilema de quem se disse sempre ao lado do povo, contudo um imposto a menos pode não representar somente uma crise passageira, mas poderá decidir as próximas eleições presidenciais. Quem tem o osso não quer largar, mas tem um canil inteiro querendo abocanhar. E quê dizer disso tudo, uma trajetória gloriosa ou um futuro duvidoso?


Josiane Canterle


http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/elianecantanhede/ult681u354143.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/valdocruz/ult4120u350952.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u354497.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u352246.shtml
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
http://veja.abril.com.br/080103/p_022.html
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/governo_lula/
http://veja.abril.com.br/120203/p_032.html
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=capa_online
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Política&newsID=a1709645.xml
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a1708309.htm
http://veja.abril.com.br/300403/p_050.html
http://www.pt.org.br/portalpt/index.php

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