quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

SE O DIABO É O PAI DO ROCK

SE O DIABO É O PAI DO ROCK...

É... Definitivamente parece que passou o tempo em que convidar o capeta para dividir o palco em um show de rock era uma transgressão capaz de escandalizar as boas senhoras papa-hóstias que afiavam suas línguas contra as blasfêmias musicais deste ou daquele artista avesso aos conceitos moralizantes de uma sociedade conservadora. Fatos são fatos e, convenhamos, nossa sociedade de conservadora já não tem muita coisa. O que mudou é que aquilo que antes nos parecia uma transgressão suprema parece acabou apropriada por um sistema comercial esperto, sempre atento ao que pode gerar um movimento de consumo e uma graninha a mais no bolso de meia dúzia de executivos ligados. E o capeta acabou virando rótulo...

Lembro de Paulo Coelho em seus tempos de psicodelia (sexo, drogas, rock e magia!) junto do eterno maluco beleza Raul Seixas afirmando aos quatro cantos a sua sociedade alternativa, fazendo referência a Alester Crowlei e criando alegorias que brincavam com o ocultismo chamando o Diabo de pai do rock. Bons tempos em que as coisas pareciam mais simples e as famigeradas transgressões à ordem social eram mais claras. Hoje confesso que isso tudo me confunde um pouco. Paulo Coelho já faz tempo que virou fantoche e agora parece bem mais preocupado com a seu fardão do que com alguma produção que vale a pena parar e debater. Raulzito virou adubo, mas deixou sua voz como lembrança para a gente e os direitos autorais para o deleite de suas viúvas e gravadoras.

Quantos clones de Black Sabbath surgiram deste que Ozzy Osbourne desfilou pela primeira vez de mãos dadas com o Demo cantando alguns petardos metais? Putz... estamos carentes de legitimidade, de autenticidade! Ozzy está velhinho, segue blasfemando por aqui ou por ali, mas já está com muito mais cara de papai de família do que de comedor de pombinhas. E não faltaram candidatos ao trono do supremo rei do satanismo, vide a bonequinha da vez, Marlyn Manson. Ok, podem reclamar, esse texto é parcial sim, é opinativo sim e o autor está fuleiro com tudo e com todos sim! Mas por favor, não venham me dizer que conseguem enxergar autenticidade no garotinho de olhas esbranqueados que parece mais ser a cria de um cruzamento do Vingador com o Mestre dos Magos do que com o Anti-Cristo que se proclama.

Capetas a parte, voltando ao assunto, o que era transgressão virou rotina. Alguém percebeu que existia um público seleto, identificado com as porralouquices destes malucos afim e não tardou no sistema capitalista selvagem, absorver o que antes era considerado agressão como um novo produto a ser exposto nas prateleiras “alternativas”. E assim como a Branca de Neve até hoje deve ter saudade dos bacanais que viveu junto dos sete anões antes de conhecer o Príncipe Encantado, os representantes do velho underground devem revirar-se na cama insones com a lembrança dos velhos tempos em que o que contava de fato eram as boas idéias e as sacadas originais de manifestação.

Hoje me parece que é tão comum satanizar algumas musiquinhas que quase diariamente surgem “novas” ondas tentando diferenciar-se (trashs, deats, blacks...). Putz de novo! Chega de guetos cretinos e de lógica de mercado permissiva onde oportunistas de plantão estão prontos a queimar umas bíblias por aí, posar de anti-cristo e colocar aspinhas siliconadas por baixo da pele só para vender mais discos, fazerem mais shows e engordarem um pouquinho mais suas contas em saudáveis instituições bancárias dispostas a contribuir para o bem estar social... Ufa... quase perdi o fôlego.

Na verdade, acho que vou me arriscar a cometer um sacrilégio contra Deus e o Diabo ao mesmo tempo, mas não posso deixar de pensar que muitas vezes os rockeiros convertidos que abandonam os circuitos convencionais e despem-se de sua produção profana, adentrando os portais dos sagrados templos religiosos, são muito mais underground do que certo bonecos bunda-mole que andam por aí. Culhão mesmo tinha o velho Ozzy em seus tempos de glória, que comia pombas e morcegos na frente de milhares de fanáticos de plantão. O velho rock era religião, era místico, era fodido mesmo! Os nossos tempos estão carentes dessa legitimidade. Ou talvez seja eu mesmo que esteja ficando velho, assim como envelheceu o tio Oz, mas cada vez mais me parece que os novos anti-cristo dos palcos são bonequinhas animadas, no melhor estilo “mamãe me dá mamadeira”.

O Heavy Metal está capenga não por falta de potencial, mas ao contrário, por possuir um potencial extremado, que no fundo acaba sendo meio ingênuo e indefeso frente à lógica antropofágica do mercado. Tem gente que diz que o Diabo vive muito mais presente no coração do sistema financeiro do que propriamente nas blasfêmias dos malucos que sobem ao palco louvando a escuridão e jogando respingos de catchup sobre seus fanáticos seguidores como se tempero fosse sangue sagrado... E se for assim me parece claro que o que o Dito Cujo quer é arrebanhar uma boa porção de almas desavisadas para aumentar um pouco a densidade demográfica do inferno. Mas me deixe perguntar: Você já conheceu um banqueiro ou um executivo de gravadora? Pode acreditar que perto de um destes, nossos anti-cristos pós-modernos estão muito mais para anjinhos revoltados do que para aprendizes de Capeta que, pelo que me consta, tem um relevante currículo de serviços prestados e deve até estar envergonhado de algumas bonecas que andam citando seu sacrílego nome em vão.

Ufa! A coisa ta feia mesmo! Até no inferno ta difícil de dizer “longa vida ao rock n’roll”!

Marcos Corbari

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