domingo, 16 de dezembro de 2007

A era da Televisão Digital – inclusão ou exclusão?


O Brasil tem uma sociedade desigual, isso fica cada vez mais evidente e preocupante, já que estamos vivendo uma “explosão digital” onde cada dia aparecem novas tecnologias. Como ficará a população que era excluída das chamadas tecnologias convencionais? Que interesse o poder de comprar, jogar e interagir com um televisor pode despertar no público da tv aberta, das classes C e D? Por que se discute tanto a tecnologia em si, como forma de melhoramento de imagem e transmissãohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Televis%C3%A3o_digital , como forma de lucro e crescimento e raramente se discute o conteúdo que essa inovação propagará?
Grande parcela da população brasileira não conseguia adquirir e nem usufruir de uma tecnologia tão abrangente como a internet. Diante de um orçamento apertado, dívidas, filhos na escola, gastos e mais gastos, esses indivíduos ainda têm de se enquadrar em uma sociedade capitalista onde a quantidade é mais valiosa do que a qualidade. Dessa forma todos os dias deparam-se com novas tecnologias, o celular comprado ontem no próximo mês já é antigo, entrando na paranóia consumista de ter para ser. No dia 02 de dezembro de 2007 a televisão digital entrou em funcionamento no país, no estado de São Paulo de acordo com o decreto nº- 5.820, de 29 de junho de 2006, dando início a uma nova era midiática, a mídia digital.
São indiscutíveis os prejuízos para as pessoas que não tem acesso a web, quantas informações, oportunidades, quanto conhecimento, facilidades, comodidades entre outras coisas que a internet proporciona, não são aproveitadas por grande parcela da população. A inclusão digital vem crescendo de forma lenta e gradual no país, segundo pesquisas da Unesco, em 2005 existiam cerca de 12 mil pontos de inclusão digital no país,
www.oppi.org.br/, esses pontos são locais onde é disponibilizado acesso público gratuito à nternet. Esses dados nos mostram a realidade do andamento do processo de inclusão digital no Brasil, com 180 milhões de habitantes, 12 mil pontos de inclusão parece ser um número relativamente pequeno.
O governo tenta implantar esse sistema de inclusão, mas se ainda não teve progressos significativos na inclusão da população na era da nternet, não seria cedo demais para impor que em 10 anos um país inteiro adapte-se a outra tecnologia?
Um país tão populoso como o Brasil consegue atingir a espantosa porcentagem de 98% de lares equipados com televisores, percentual que ultrapassa o de eletrodomésticos como a geladeira – vale ressaltar que uma parcela grande desses lares é de famílias pobres http://www.teleco.com.br/tvdigital.asp.
Outro fator que levanta interrogações é a falta de discussão em relação ao conteúdo que será veiculado na televisão digital. Que melhorias serão efetuadas na programação, que benefícios trará para os telespectadores. Até hoje a grande maioria dos debates gira em torno da tecnologia, do benefício na imagem, transmissão.
Sem dúvida a televisão digital será um enorme avanço tecnológico, que proporcionará vários benefícios para a sociedade. Mas e quem ainda nem conseguiu ter acesso à nternet, que ainda paga as parcelas do computador comprado nas Casas Bahia, como vai fazer para ter acesso a essa nova tecnologia?
Roberto Andrade, jornalista, diz que “governo e sociedade deveriam aproveitar esta oportunidade para criar um mercado de televisão plural e democrático, que incentive as produções audiovisuais em todas as regiões e afirme nosso País como pólo soberano de criação cultural e intelectual. A implantação da TV Digital deve permitir o surgimento de uma nova televisão. E não, apenas, de um novo eletrodoméstico”.
Certamente em 10 anos o processo de inclusão começa a acontecer, gradativa e lentamente como a inclusão na internet hoje, mas será que uma casa própria, filhos na universidade e comida na mesa não são prioridade para essas pessoas? A inclusão facilitará e trará oportunidades para essas pessoas, mas um televisor interativo, com melhor imagem, e custo alto não parecem ser a melhor solução para a sociedade brasileira.


Duane Löblein

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