quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O ator-personagem.

Flaubi Farias


Estamos acostumados, principalmente nós brasileiros, que assistimos exageradamente a muitas novelas numa mesma emissora, a acompanhar os atores fazerem um papel novo a cada ano que se passa. Na maioria das vezes são papéis completamente distintos, o assassino da novela das 8 de hoje poderá ser o palhaço da novela das 6 de amanhã, e assim por diante. O mesmo acontece no cinema, poderia elaborar uma enorme lista com talentosíssimos atores que lidam tão bem em longas de drama como em longas de comédia.
O ator, como o próprio nome já explana, ganha a vida atuando, interpretando outros personagens criados por um autor ou até por si próprio. Todos conhecemos ilustríssimos atores, no cinema, a cada ano em que ocorre a cerimônia de entrega do Oscar, assistimos aquele vasto elenco presente, nem todos concorrendo, mas marcando presença, todos são astros de Hollywood e precisam estar lá. Então observamos todos eles e lembramos de todas as suas atuações, olhamos para o Jack Nicholson, que venceu o Oscar interpretando Um Estranho no Ninho e Melhor é Impossível, lembramos do Marlon Brando, que recebeu duas estatuetas por Sindicato dos Ladrões e O Poderoso Chefão, lembramos também de Ingrid Bergman, que não venceu em Casablanca, mas faturou em À Meia Luz e Anastácia, a Princesa Esquecida, vemos na tela do televisor Tom Hanks, que foi escolhido melhor ator por Filadélfia e Forrest Gump, vemos também Hillary Swank, vencedora por Meninos Não Choram e Menina de Ouro, só para citar alguns exemplos.
Eu olho para todos esses atores e os enxergo como eles realmente são, sequer cogito em compará-los com seus personagens. Serão eles tão ótimos atores que exercem tão bem seus papéis que os livram de qualquer comparação com sua vida real ou serão eles tão péssimos atores que não conseguiram passar para o público uma interpretação capaz de deixar de vez de lado a sua vida particular, “encarnando” o papel, pondo o personagem acima de seu status de ator?
Deve ter sido em 1995 que eu assisti pela primeira vez Mr.Bean, na época era um quadro do programa Fantástico da Rede Globo, e até hoje eu não consigo ver Rowan Atkinson, intérprete de Mr.Bean exercendo bem outro papel. Não que ele seja um ator medíocre que foi capaz de criar e interpretar só um papel e nunca mais fazer sucesso tanto na televisão quanto no cinema, pelo contrário, ele se saiu tão bem fazendo o Mr.Bean que é impossível não lembrar de suas caretas e trapalhadas. Seus outros personagens, como Johnny English e o italiano sonolento Enrico Polini de Ta todo mundo louco não emplacaram, e nem seus papéis antes de criar o Mr. Bean são capazes de fazer o público olhar para a tela e falar “olha lá, o Rowan Atkinson” em vez de “olha lá, o Mr. Bean”.
O ator, digo o personagem, virou uma referência, criou vida, ocultando quem o interpreta. Não interessa saber quem interpreta o Mr. Bean, interessa saber qual besteira o Mr Bean vai aprontar no próximo capítulo. Essa é a diferença entre o ator e o ator-personagem. Palmas para Rowan Atkinson, o engenheiro elétrico que melhor atua, em outra área, no mundo.


www.rowanatkinson.org
www.mrbean.co.uk/
www.imdb.com/name/nm0000100/

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